Faiscas


Era tudo muito perceptível, mas dúbio. O que eles queriam estava a uma certa fácilidade, para aquilo que apropulsão do desejo que percebiam que era o bastante. No entanto é óbvio que não seria tão simples. Facilidade e simplicidade eram dissonantes. O torpor que os restava era avassalador e embriagante.

As imagens e as fantasias sempre voltavam a força. Esse masoquismo moral, tinha toques deliciosos, cheiro de banho e suor, os caminhos marcados que as mãos e pernas se faziam pecorrer pelo corpo do outro, nesse script até o ofegar estava compassado a uma taquicardia que se elevava com o passar daquilo. A insistência da imaginatividade que se destilava na consciência era sem precedentes. De fato incomum. Mas o que se poderia esperar de duas pessoas incomuns? É provável que no mínimo a imprevisibilidade. E a verdade é que isso era a única coisa que eram capazes de ter.

Ele se via imerso numa camisa de força mesmo no mais quente e e aconchegante abraço dela. Isso porque era incapacidado de continuar, e isso lhe causava um aperto no peito. Isto era parte do seu trilema paradoxal. Tanto sabia que queria,  que era quase capaz de se admitir viciado com tanto. A verdade é que precisava de uma deleitosa overdose. Sua pele havia sentido os lábios molhados e macios, mas suas línguas não haviam se entrelaçado, o toque dos corpos vestidos suplicavam, em meio a ternura, por nudez.

O pecado do "se" nos diálogos mentais que vivia, montavam monologos incriveis, mexiam com uma culpa e com tantos sentimentos deslocados. Se isso... Se aquilo... Se ali... Se assim... A questão se referia a conexão,  a uma falta, a um desejo real humano santificado na posição que estava, e a inconclusao era um martírio. A expectativa era cruel. Só assim se entendia. Sem se entender quando suspeitava que todo mundo estava entendendo bem demais. Seria mais fácil, se não fosse difícil. Se... Se essas faiscas fossem palavras. Quanto poderiam dizer? Talvez não muito, as limitadas palavras não tem porte para descrever o que queriam fazer como queriam. E se...

event sábado, 19 de novembro de 2016
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