Meu livro (leia-me) - Capitulo 2

... Ingresso consumido.


Depois de uma noitada daquelas, com direito a tudo e um pouquinho mais, cheguei em casa. Mesmo tentando disfarçar a todo custo, eu estava claramente bêbado. Pensei nos diálogos mais irrefutáveis que me podiam vir a mente, mas os deixei de lado para aceitar o que quer que viesse pela frente. Eu estava errado por ter mentido, saído, bebido e desobedecido, sem contar as pessoas que foram usadas em "meu planinho", como a mãe do Thiago, por exemplo. Enfim, bati forte na porta e chamei pelos meus pais. Logo apareceram preocupados. As três da manhã o filho deles não deveria estar na rua enquanto pensavam que estava seguro na casa de um amigo... Perguntaram o que havia acontecido, e me puseram a entrar. Não demorou para sentirem o cheiro de bebida e cigarro, além de me verem entorpecido de tanto álcool. Reclamaram, brigaram, fizeram aquele escândalo e nem os pude escutar. Minha dor de cabeça era enorme e quanto mais falavam, mais eu franzia os olhos em sinal de dor. Corri pelas escadas e me tranquei em meu quarto. Quando fosse mais apropriado eu sairia, talvez quando achassem que houvessem esfriado a cabeça.

Quando entrei no quarto que havia parado de correr, o desconforto de antes estava agora enorme. Vomitei o que havia comido e bebido naquela noite. O vinho disperso no chão agora mais parecia sangue. Comum pela quantidade que havia ingerido. Minha febre aumentava, e com ela minha preocupação. Numa hora dessas não iria pedir ajuda a ninguém de casa, muito menos a outro conhecido aquela hora. Então me lembrei de um remédio que havia comprado da garçonete. Ela me prometera que servia pra uma infinidade de coisas, mas não liguei tanto pra isso. Tomei-o, mesmo não acreditando tanto nos efeitos milagrosos do tal remédio, mas seria aquela, a única chance de ajuda. Fui ao banheiro do meu quarto e lavei o rosto e um pouco do corpo. Quando então voltaria a cama, senti uma tontura de relance, rápida. Mantive-me estático no intento de esperar passar, mas ainda aumentava a sensação estranha de desconforto que não consigo descrever mais aqui. O calor da febre tomava conta do meu corpo todo, podia sentir o calor entrando, me possuindo. Quando dei por mim desmaiei no chão frio, não sei se por efeito do álcool ou do tal remédio.

Quando o dia clareou e o sol das onze horas invadia meu quarto, acordei com uma tontura intensa. Senti o teto de meu quarto girar sob minha cabeça ainda de olhos fechados. Tentei me lembrar do que havia acontecido na noite passada e aos poucos os flashes de lembrança me refrescaram a memoria. Depois disso, num curto prazo de tempo, me deparei com uma situação estranha. Não conseguia me mexer ou falar. Com uma dificuldade imensa, quase não abro meus olhos. O que antes achei estranho, com o passar do tempo tornou-se desesperador. Passo horas e mais horas em pura agonia sem conseguir mover um milímetro do meu corpo. Sabia que estava perdendo os sentidos. Sentia cada vez menos as costas suadas no assoalho. Gritei em panico para mim mesmo, mas ninguém pôde ao menos escutar-me. A repulsa de estar ali parado como uma pedra ou planta me sufoca cada vez mais. Paro e analiso melhor minha situação, e vejo o que posso fazer. Nada! Podia apenas esperar que dessem pela minha ausência.

Penso até perder-me cada vez mais no que penso. Fica tudo muito turbulado em minha cabeça. A agonia e o desespero me confundem.

... (Continua)

Autor: Fellype Alves de Abreu
event quinta-feira, 21 de junho de 2012
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