
quem sou?
um ex-drogado
da favela exilado
por ter saído vivo
do tiroteio que houve
pela quantidade de droga
que eu havia consumado
e nunca pagado.
Minha mãe morreu
antes do nome me dar
e meu pai as drogas
não tinha mais o que dá
e sem forças para lutar
sonhos deixou para se matar
antes entregando-me
a vizinha, para me criar
- e awe? vai uma?
- não, não uso – insisti
- pois experimenta
- talvez depois – menti
…depois nos falamos,
quem sabe em outro encontro.
era esse o dialogo-contato
entre o pessoal dos
aeroportos de maconha e crack
coisa leve e barata, era o que diziam
e eu não confiaria naqueles
malogrados que da vida riam
apenas não encarava
apenas não comprava
apenas não aceitava
apenas não usava
apenas não me viciava
apenas tinha medo da droga
apenas tinha 17 anos
apenas vivia de apenas.
Numa crise existencial
em meu âmago pungente
jorrou lagrimas e conflitos
a na primeira tentação atraente
sedi, errei meramente.
Meu erro foi encarar
de peito estufado e de cara limpa
aquilo que era bom pra mente
e mal ao corpo fazia
droga erva era a minha
verde, fumosa, irradiante
anestesínica magia,
que entorpece e vicia
foi somente o começo da minha
trágica historia de vida.
Fazem a propaganda errada das drogas
ela ótima e não é ruim
e é por ela ser tão boa
que maravilha e vicia assim
te leva a mundos e outras dimensões
é prazerosa e te traz emoções
um universo de sensações.
É também veneno
no uso, um anátema
no deleite um problema
como parar, acabar, aniquilar?
se é tão bom de usar.
Por divida
tudo negociei, vendi
mendiguei, me humilhei
e para que?
se aos 20 anos, depois de um tiro
só ficar preso consegui
não tinha mais nada a perder.
Dos drogados, fui um dos poucos
que aos 80 pôde chegar
mas por ter sido confundido com um traficante
numa prisão vivi
até o meu ultimo dia chegar
hoje sem droga
por faltar, sem opção
morto estou,
sabendo que no céu vou entrar
pois alguém lá em cima
viu o quanto tentei lutar
e o condeno a “droga” da droga
abstinência ainda me sufoca
ninguém merece por isso passar.