
Estava anoitecendo. Já eram 18:00 horas. Sofia, minha cadela já estava aos meus pés com seus olhos pedintes, me lembrando que era hora de por sua ração. Havia passado o dia estudando artigos sobre o desenvolvimento moral de Piaget e Kohlberg. Era uma pausa conveniente.
Aquele pequeno ser peludo, doente de tão carinhoso, mau podia se conter, pois ao ver cada grão de ração a cair na sua tigela, ela se transformava não mais em um simples receptáculo com alimento nutritivo, era a partir dali o objeto da sua sede e felicidade ali. Mas sadicamente, após servir sua tigela, a guardei. Era um rápido teste.
Parecia confusa como quem perguntasse "Onde está o objeto da minha vontade? Sei que quero aquilo, estava logo ali. Eu vi."
Fiquei parado, observando o que aconteceria e ela procurou, foi de um lado para o outro, conferiu se seu prato estaria onde sempre fica. Tentou farejar e não entendia. Depois de sua frustrada busca, foi até mim, procurou em minhas mãos e nada havia. Seu objeto de desejo estava perdido, mas ela sabia que ele existia porque viu diante os seus olhos. Parecia que não pararia. A fome, não era o problema, ela não estava faminta. O problema era a falta daquilo que ela sabia que existia e lhe pertencia. O problema era o vazio. Era o não-todo.
Lhe devolvi a ração e ficou superfeliz. Não sabia como, mas isso não era a questão. O objeto da sua felicidade havia retornado. E como nunca, o devorou.
Onde está o objeto da sua felicidade? Como pretende devora-lo?
Fellype Alves