E lá estávamos. Ela uma louca racional, passiva de criatividade, exasperando um mundo que nunca chegava, presa por grades de pensamento, por seus próprios preconceitos. Eu um garoto retardado, cheio de manias complicadas, vivendo o mundo irreal que sempre foi pra quem quer que o visse. Livre pelas asas do meu pensamento, liberto de dogmas e valores morais, livre de todo preconceito. E lá estamos. Um banco de praça, sem ter o que dizer, mas com tanto pra saber um do outro. As folhas caíram, o vento ruminou seus cantos, pessoas passavam, pássaros voavam. Ah, e nós? Apenas lá estávamos. Queria-lhe tanto, que me recusei qualquer erro. Ela apenas esperou tanto, que nada ocorreu. Queríamos tanto, tivemos tão pouco.
Voltei a praça outro dia e me sentei no canto de sempre, com meu livro a mão. Fiquei sozinho no mesmo banco de sempre até que uma velha amiga apareceu e beijou-me repentinamente. Já havia tido sentimentos pela garota que me beijara, mas não consegui deixar de pensar na que nunca falei. Estava euforiado, deixei a desconhecida de lado na minha consciência por alguns instantes. Escolhi minha ousada amiga. Depois não voltei mais para aquele banco da praça. Depois de um tempo ainda bem maior casei-me com a ousada garota e todo o resto havia esquecido por um bom tempo, uns fatos quase deletados na memória. Tive filhos e cresci como homem. Moro em minha própria casa e tenho meu emprego.
Numa fila de banco, achei uma outra conhecida daquele tempo. Me contou como andava e até se referiu a garota desconhecida daquele banco. Bem, ela havia sofrido um acidente naquele mesmo dia indo para aquele mesmo lugar, e havia falecido. De qualquer forma não mais a veria, senti uma dor, uma culpa, senti algo ruim e amargo no peito. Mas me pondo as variantes e outros "ses" da vida, o que será que haveria acontecido com ela, comigo, com minha mulher, se eu tivesse ousado em me declarar antes de tudo, ou ainda que ela tivesse me respondido um mero oi. No máximo ela me rejeitaria e evitaria a ir pro mesmo banco de sempre. Ou poderíamos estar juntos em qualquer outro lugar...
Pra quem pensa que acabaria aqui, um engano. Apenas o primeiro paragrafo não foi um sonho. Escrevi isso pra ditar por letras meu amor. Acordei atordoado, confuso, desesperado. No dia seguinte não pude deixar de falar com ela, fiz uma amiga. Depois, dela fiz minha namorada. Ainda mais tarde fiz dela minha mulher. Ela sempre foi meu amor.
Pra quem pensa que acabaria aqui, um engano. Apenas o primeiro paragrafo não foi um sonho. Escrevi isso pra ditar por letras meu amor. Acordei atordoado, confuso, desesperado. No dia seguinte não pude deixar de falar com ela, fiz uma amiga. Depois, dela fiz minha namorada. Ainda mais tarde fiz dela minha mulher. Ela sempre foi meu amor.
Autor: Fellype Alves de Abreu