Ai de nós

Tenho muitas vezes, inexplicavelmente, um entorpecimento hipnótico fantasioso e espontâneo com você. O que me és, esta mulher que me afeta e me marca a alma, que me deixa programado a revive-la em pensamentos ardentes? És tu, que me cativa com esta combinação de olhar e voz sorridente. Dormir suando e acordar com um sorriso tão quente e zen... É isso que carrega um fulgor delicioso que eu não sei explicar. O que me és esta mulher que tem isso que foge a minha coesão? Você que sabe discursar, interpretar e questionar. Que sabe me alimentar um sentimento de companhia, de cumplicidade e desejo. Que fez questão de me entender e escutar, logo eu que bagunço toda lógica com meus métodos tortos, também aprendi que carrega os seus métodos desalinhados.

Tratou-me tão bem. Foi tão amável que te ainda te amo. Foi erótica, carnal e uma excepcional dama das minhas noites, devassa em minhas mãos cruas. Você é rara demais para alguém tão medíocre quanto eu. E não existem desculpas para as minhas covardias. O teu afagos me tocaram, e a nossa lubricidade me invadiu com uma intensidade parecida com a que eu te invadi, mas as tuas lagrimas... Elas se congelaram e em queda, se moldaram em lâminas e me perfuraram o coração. Tentei te dar um suporte que não tinha sequer para mim quando vieram as palavras que fitavam novos limites, e me declinei ao ocaso. A dor de entender essa possibilidade de fim, foi uma pontuação grotesca. Você teve a coragem de se fazer a bondade que meu egoísmo não me permitiu te fazer.

Talvez não saiba a culpa que tomo pra mim em relação as tuas lágrimas. Entretanto, ainda adoro me lembrar dos momentos mais quentes e doces que tivemos juntos, e o mesmo parece acontecer contigo. Sei que pode não ter sido a forma mais tradicionalmente aprumada de se relacionar com alguém com tanto carinho e furor. Somos excepcionais um para com o outro. Por isso sei que ninguém vai poder dizer como nos amamos, assim não poderão nos dizer como amar.

DOCE VENENO

Este amor me envenena
Mas todo amor sempre vale a pena
Desfalecer de prazer, morrer de dor
Tanto faz, eu quero é mais amor
A água da fonte bebida na palma da mão
Rosa se abrindo, se despetalando no chão
Quem não viu e nem provou
Não viveu, nunca amou
Se a vida é curta e o mundo é pequeno
Vou vivendo morrendo de amor
Ah, gostoso veneno
                      ( Compositor: Wilson Moreira )

O desconhecimento alheio a respeito das nossas experiências, ignorância das nossas trocas, não reconheceriam a pureza dos olhares e toques, o jogo de mãos misturadas em meio a uma conversa após as aulas esperando teu transporte. Sabe aquela sintonia carnal? A troca de olhares disfarçados em meio a aula, ou o nível de interesse dos dois nos mais insanos assuntos compartilhados. Sabe aquela sintonia mental? Poisé, ninguém poderia entender tão bem quanto a gente. Foi real, verdadeiro. Eu já reconhecia isso naquela época e futilmente tentei me esquivar do que sem saber já estávamos laçados. Faiscamos-nos novamente num outro momento. Você tinha cisma com escadas rolantes e elevadores, teve hambúrguer muito bom papo para colocar em dia e rolou uma paquera disfarçada. Ficamos até o shopping fechar. e já tinha até esquecido que o estacionamento já havia fechado. Eu me lembro dos teus olhos faiscando os meus e toda a energia eletrostática que eu sentia fluir dos nossos toques. Quanta telepatia e especulação... até que um dia, numa madrugada-manhã, após uma noite de trabalho árduo... eu te pego voluptuosamente com ar de tudo que me eras. E foi assim que a partir daí. De saber que eras em algo minha, que de alguma forma me pertencia. Que eu me permiti te amar aos poucos, e cada vez mais. Até que hoje estamos aqui, colecionando terças de prazeres filosóficos e carnais.

Sei que sou incapaz de conseguir atender todas as tuas demandas emocionais. Eu também não atendo todas as demandas emocionais de ninguém. Sou insuficiente em mim mesmo. É minha sina. Não posso mais do que aceita-la. Entretanto nunca pude obrigar qualquer um a fazer o mesmo. E tento deixar claro o fato de que aceitar isso não é um fator de descaso, mas de clareza. Fique o quanto puder ficar e iremos aproveitar juntos o que temos para aproveitar, e quando me for, sei que só me restará o meu luto romântico-pervertido-nato de minha natureza. Você não erra em carregar suas ambições solidas. Eu vendo um estado de inconstante liquidez que ninguém que pretenda se ater ao modelo tradicional mereça comprar. É ridículo. Eu me apaixonei, eu te enamoro, te tenho até ciumes, e sonho quando fecho os olhos. Isso seria cruel se não fosse tão bom. É ridículo. É gostoso. O que não é: Promessas. Não te prometo nada. Você não me deve promessas.

Não me odeie. Não guarde por mim, pensamentos negativos ou destrutivos. Você pode apostar, que nunca teve projeto-de-relacionamento tão real e sincero. Em que você fosse tão cientemente participante e entendida a ponto de saber das coisas que não sabe e contrapô-las com as que sabe. Não te prometo ideais de certos e errados. Não te farei promessas. Mas estou aqui. E você onde está? Onde pode e quer chegar? O que é suficientemente real pra você? Onde estão as suas respostas? Eu não tenho respostas para as suas perguntas, talvez eu tenha mais perguntas maiêuticas. Detestaria dar respostas e não te ensinar nada. Melhor do que isso, te experimentei, te saboreei. Do mais torto jeito eu te embalei na segurança das minhas incertezas e cedi amar.

Obrigado,
Fellype Alves de Abreu
event sábado, 26 de novembro de 2005
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